Museus e galerias
“Em 2000, assim, começa a realizar pinturas que reproduzem espaços internos de instituições de arte ao redor do mundo, de modo a replicar a arquitetura. Mais tarde, em 2014, no lugar onde estariam as coleções, passar a inserir texturas como se seu conteúdo original tivesse sido subtraído ou transmutado numa existência abstrata. O exercício de construção de perspectivas trata do espaço como condição e ao mesmo tempo ilusão.
Uma vista interna do Museu de Artes de Nantes, instalado num palacete do século XIX, soma-se a uma visada de uma sala do Dia Beacon, um prédio industrial ao norte de Nova York adaptado para receber uma coleção de arte do Pós-Guerra. Integra ainda o recorte uma imagem que replica o interior da Capela Rothko, no Texas, inaugurada em 1971. A estrutura octavada abriga quatorze pinturas de Mark Rothko, todas de um preto profundo, que ainda assim abrigam nuances de cor que se revelam aos poucos. Na obra de Senise, o tom fugidio é retomado com uma grossa camada de carvão. Por fim, um relance do Museu Louvre atravessa os espaços e conecta-se com a série seguinte: Biógrafo LIII (Louvre) (2018), que retrata salas com uma dezena de pinturas sobre as paredes, marcadas por molduras que carregam conteúdos desconhecidos. No primeiro plano, uma incisão tal como a matéria dos quadros, impõe-se. De cores terrosas, a pintura é realizada a partir da colagem de distintas monotipias sobre tecidos, elaboradas no contato com o chão.”
(trecho do texto “Biógrafo”, de Júlia Rebouças, 2018)