Mãe do artista
“As versões que Senise faz de Retrato do Mãe do Artista reforçam a ideia de que aquele que viaja pelo tempo é na verdade um viajante imóvel. O presente é a praia onde vêm bater as sobras do passado, os cacos de um mundo cuja unidade está para sempre perdida.
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Os tempos das coisas vão se depositando como que por decantação. Não deixa de ser extraordinária a recusa da imagem em desaparecer, sua enorme persistência em reagir à fúria dos elementos. Mas é possível prever sua transformação em uma nódoa indistinta, último estágio antes do silêncio.
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A pintura de Whistler, como outras tantas obras, viaja no tempo até esbarrar no presente. Como um ímã, ela atrai e seguirá atraindo o olhar de seus espectadores e passará a residir em suas memórias, onde, com o passar do tempo, como um corpo maleável e poroso, sofrerá mutações, acréscimos e supressões, até voltar para fora, renascida, transformada, outra aparência, outra coisa, até se transformar em algo que alguém julgará familiar muito embora não saiba dizer do que se trata.”
(trecho do texto “The Piano Factory”, de Agnaldo Faria, publicado em Daniel Senise. The Piano Factory, Andrea Jakobsson Estúdio, Rio de Janeiro, 2002)