Livros
“Parceiro de André Breton no jornal Minotaure, o editor francês Albert Skira (1904-1973) revolucionou a produção gráfica de livros de arte ao propor uma inovação na hora de imprimir cada título: as ilustrações iam para a máquina uma a uma, garantindo assim controle e excelência da escala de cores. Depois, eram coladas individualmente nas páginas, acima de suas respectivas legendas. Skira (2009-2010), série de trabalhos de Daniel Senise, usa páginas destes livros, publicados em sua maioria na primeira metade do século XX, para construir na superfície da tela fachadas arquitetônicas que lembram as “brise soleils”. Outra invenção francesa difundida mundialmente por Le Corbusier (1887-1965), as janelas enviesadas são parte importante da paisagem urbana do Rio de Janeiro modernista de Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy.
As páginas são usadas pelo pintor carioca depois que suas imagens originais foram suprimidas, deixando no papel a lembrança do corpo antes colado ali. […]
O corpo ausente que se vê nas páginas de livro de Skira sempre foi o motor da poética de Senise na direção desta pintura expandida. As legendas no papel formam uma espécie de alavanca para a memória, que tenta recuperar em seus arquivos as imagens que antes estavam acima de cada identificação. É aí que o trabalho toca em outro ponto importante da obra do artista brasileiro: sua relação com a História da Arte. Skira cria a janela arquitetônica modernista a partir da “janela” deixada no papel pela obra de arte, citando uma terceira janela, a renascentista, matriz de toda a pintura do Ocidente.”
(trecho do texto de Daniela Name para exposição na Gallery 32, 2010)