Eva
“Mas uma obra do artista se impõe em particular neste contexto, ao resumir de forma dramática e brilhante a subjugação silenciosa e nunca resolvida que o tempo absoluto impõe ao homem. Eva, instalação de 2009 apresentada no Centro Cultural São Paulo, coloca entre quatro paredes a escultura de Victor Brecheret do mesmo nome. Estas paredes são feitas de tijolos de catálogos e convites reciclados, e vão crescendo gradualmente ao longo dos dias até taparem por completo a figura humana, aprisionando-a até do olhar exterior. Se Eva simboliza a primeira mulher, o arquétipo da fertilidade, a mãe de toda a humanidade e a responsável pelo impulso que levou Adão (Homem) a comer a maçã da árvore do conhecimento; as paredes representarão claramente o inalterável avançar do tempo, o passado, o enorme branco que engole a história e reduz a patéticos pontos coloridos as palavras, as datas, os acontecimentos, as ideias e as aventuras que o homem continuamente persegue na sua ânsia de existir.”
(trecho do texto “Daniel Senise: O Reino e o Tempo, ou, O Tempo do Eterno – O Homem do Efêmero”, de Jorge Emanuel Espinho)
Daniel Senise: O Reino e o Tempo, ou, O Tempo do Eterno – O Homem do Efêmero