Arranjo em cinza e prata – Teatro Villa Lobos
É significativo, portanto, que a obra mais recente de Senise, terminada durante a montagem da presente exposição, chame-se Arranjo em cinza e prata [2019]. A obra, um painel de 3,66 x 5,00 metros, é composta por placas de alumínio justapostas e majoritariamente cobertas por detritos dos carpetes incendiados em 2015 no Teatro Villa-Lobos, em Copacabana. Não há desta vez uma base fotográfica, e em primeira instância é possível perceber a obra como um arranjo formal, o que é logo reiterado pelo seu título. No entanto, esse título carrega uma história, como acabamos de ver, e essa história cautelar lembra que as coisas sempre podem ser mais complicadas. O material escolhido, por sua vez, tem suas próprias marcas de um acidente (o incêndio) que, por ser tão recorrente na história do Brasil (quantos incêndios em instituições culturais, acervos e patrimônios um mesmo país, tão jovem, pode ter?), evoca muitas ideias e sentimentos que transbordam o ritmo de cinzas e pretos dispostos por toda a composição.
Gosto de imaginar que será no exato momento em que o espectador se der conta de que está diante dos dejetos de um país eternamente jovem, jamais saudável (como definiu Lévi-Strauss), que a superfície reflexiva do alumínio que transparece nas frestas da colagem de cinzas refletirá a luz do ambiente em seus olhos, ofuscando-o com o excesso de claridade.
(trecho do texto “Cinzas cinza”, 2019 de Paulo Miyada)